A Antártida como Farol para a Gestão Ambiental Mundial
Claire Christian defende que o Tratado da Antártida, um exemplo de cooperação internacional, pode inspirar soluções para desafios ambientais globais, após receber o Prémio Gulbenkian para a Humanidade 2025.

Claire Christian, diretora executiva da Coligação para a Antártida e o Oceano do Sul (ASOC), considerou que o modelo de gestão da Antártida pode servir de referência para a administração ambiental em todo o mundo. Em entrevista à Lusa, após receber o Prémio Gulbenkian para a Humanidade 2025, Christian destacou que o Tratado da Antártida, firmado em 1959 por 12 nações, demonstrou que países conseguem unir esforços em prol de um objetivo comum, mesmo em tempos de tensões globais.
"A Antártida exemplifica como, através da colaboração, podemos enfrentar desafios significativos. O Tratado foi estabelecido durante a Guerra Fria e tem mostrado que a cooperação é viável, mesmo em contextos adversos", afirmou. Ela sublinhou, no entanto, que este não é um remédio para todas as situações, mas sim um modelo visionário que pode ser adaptado a outras áreas, desde que exista vontade política.
Atualmente, o Tratado, que se expandiu com vários acordos sobre proteção de ecossistemas e pesca, conta com 58 países. Este tratado estabelece princípios fundamentais, como a utilização pacífica da Antártida e do Oceano do Sul, a liberdade de investigação científica e a partilha de informações resultantes dessa pesquisa.
Claire Christian referiu que o artigo IV do tratado proíbe a utilização das atividades na Antártida como base para reivindicações de soberania territorial. "A abordagem da Antártida pode inspirar a forma como lidamos com questões globais, como os objetivos do Acordo de Paris sobre emissões de CO2 ou a proteção da biodiversidade", adicionou.
A diretora da ASOC lembrou que o sistema antártico foi pioneiro na criação de áreas marinhas protegidas, que hoje representam um tópico importante na política ambiental. A organização, fundada em 1978 e composta por 21 entidades de 10 países, participou activamente na discussão sobre a proteção marinha e recebeu o Prémio Gulbenkian por seu trabalho na promoção de uma gestão ambiental ética e sustentável.
Christian afirmou que a presença da ASOC nas reuniões do Tratado é crucial, pois a coligação tem a capacidade de trazer novas informações e preocupações à mesa de discussão sem se limitar por interesses políticos de cada nação.