A privatização das companhias aéreas europeias: lições e desafios
Analisamos as experiências de privatização de companhias aéreas na Europa e como o equilíbrio entre controle estatal e investimento privado é crucial para o sucesso.

A privatização de companhias aéreas na Europa tem sido um tema recorrente, com experiências diversas que demonstram a importância de métodos estruturados, bem como uma boa gestão das relações laborais. Países como a Alemanha, França e Itália têm seguido diferentes abordagens neste processo.
A Lufthansa, por exemplo, adotou um esquema de privatização gradual que foi precedido de uma reestruturação interna significativa. Rui Quadros, especialista em aviação, explica que "a Lufthansa implementou uma privatização total, meticulosamente faseada e sustentada por uma reestruturação interna robusta". Durante crises, como a pandemia, o Estado interveio pontualmente, mas sem comprometer a gestão a longo prazo da companhia.
Em contrapartida, a Air France manteve o Estado como acionista minoritário, garantindo influência em momentos-chave, como durante a fusão com a KLM. Segundo Quadros, esse modelo proporcionou à Air France "capacidade de influência em momentos críticos". A professora Maria Baltazar complementa que a presença estatal assegurou apoios relevantes em períodos de crise, como na pandemia.
Por outro lado, a Alitalia apresenta um histórico conturbado, com repetidos socorros estatais e privatizações mal-sucedidas, culminando na sua substituição pela ITA Airways em 2021. "O Estado italiano permitiu que a Alitalia colapsasse e, posteriormente, criou uma nova companhia pública. A privatização parcial com a Lufthansa começou em 2023", destaca Rui Quadros.
Um ponto comum entre os especialistas é a gestão das relações laborais, considerada crucial para o êxito das privatizações. "A British Airways e a Lufthansa optaram por abordar a questão de forma negociada, ao passo que a Air France enfrentou resistência significativa dos sindicatos. A transição para a ITA Airways, por exemplo, resultou em despedimentos massivos", salienta Quadros. Baltazar reafirma que o diálogo com os sindicatos e a proteção dos trabalhadores são essenciais para uma privatização eficaz.
Quanto à TAP, os especialistas notam que o modelo português reflete aprendizagens de outras experiências, prevendo a venda de até 44,9% do capital mas mantendo o controle estatal e exigindo compromissos estratégicos ao investidor. "Estes princípios alinham-se com boas práticas”, afirma Quadros, mas alerta que "é difícil imaginar que um grupo internacional invista valores significativos e ainda assim não partake nas decisões estratégicas".
Maria Baltazar advoga uma abordagem iterativa: "Portugal deve aprender tanto com os sucessos quanto com os fracassos de outros países. O foco não deve ser apenas a privatização, mas sim uma privatização inteligente e responsável." Pedro Castro ainda ressalta que, para que qualquer proceso seja bem-sucedido, é necessário ter propostas concretas: "O valor da TAP pode decrescer com o novo aeroporto. A TAP ainda detém 50% dos movimentos no congestionado aeroporto de Lisboa, que é um ativo valioso.".