Crítica à passividade das ordens profissionais no socorro a grávidas
A ANTEM expressa preocupação pelo silêncio das ordens de médicos e enfermeiros sobre a insuficiência de cuidados pré-hospitalares, destacando a situação das ambulâncias na margem sul.

A Associação Nacional dos Técnicos de Emergência Médica (ANTEM) manifestou hoje o seu descontentamento em relação ao "silêncio absoluto" das ordens dos médicos e enfermeiros no que toca ao socorro pré-hospitalar. O foco da associação recaiu sobre a situação específica das ambulâncias dedicadas ao transporte de grávidas na margem sul do Tejo.
No seu comunicado, a ANTEM sublinhou que o estabelecimento de um serviço médico de emergência eficaz tem encontrado "vários bloqueios institucionais" provenientes das referidas ordens, que argumentam que certas intervenções são atividades exclusivas das suas profissões.
Com a situação na Península de Setúbal a ser descrita como "crítica", a associação aponta que duas ambulâncias, cuja tripulação possui uma formação "insuficiente e deficiente", cuidam do transporte de grávidas. A ausência de manifestação por parte das ordens profissionais, dado o contexto, é considerada "estranha" pela ANTEM.
A associação questiona: "Onde está a defesa dos atos próprios?", chamando a atenção para a falta de preocupação das ordens face à entrega da assistência a profissionais sem qualificação clínica adequada para lidar com a complexidade de emergências médicas. A ANTEM reafirma que um serviço de emergência moderno deve contar com profissionais competentes, formação sólida e uma abordagem centrada no paciente, em vez de proteger interesses corporativos.
No centro desta controvérsia estão duas novas ambulâncias que, desde a semana passada, são responsáveis pela resposta às urgências obstétricas na margem sul, visando proporcionar um atendimento seguro e ágil às grávidas durante o verão, e que funcionarão até 30 de setembro. Estas viaturas encontram-se atribuídas a hospitais que enfrentam limitações nas urgências obstétricas em regime rotativo entre Almada, Barreiro e Setúbal, conforme explicou a Liga dos Bombeiros Portugueses.
A ministra da Saúde, Ana Paula Martins, anunciou recentemente que o Hospital Garcia de Orta, em Almada, terá a sua urgência de obstetrícia aberta 24 horas a partir de setembro, com um reforço de médicos que transitam do setor privado para o Serviço Nacional de Saúde. A ministra reconhece que a Península de Setúbal constitui a "área mais crítica" na assistência de ginecologia e obstetrícia e alertou que estabilizar os cuidados nessa especialidade exigirá tempo.
A criação de urgências regionais, uma das propostas do Governo, poderia ser uma solução viável, com equipas partilhadas entre hospitais focadas nas "especialidades mais críticas", como obstetrícia e pediatria. Contudo, segundo a ministra, a implementação destas urgências requer a elaboração de diplomas específicos que necessitam de ser discutidos com os sindicatos em setembro, reforçando a ideia de que a nova organização do trabalho deve ser negociada antes de qualquer avanço.