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Dossiê Multimedia Reflete Sobre o Impacto do "Verão Quente" de 1975

A comissão do 25 de Abril revelou um dossiê que examina criticamente o "Verão Quente", um momento de turbulência e mobilização popular na história da Revolução.

17/07/2025 08:50
Dossiê Multimedia Reflete Sobre o Impacto do "Verão Quente" de 1975

A comissão responsável pela celebração dos 50 anos do 25 de Abril apresentou um dossiê multimédia que se debruça sobre o conhecido "Verão Quente" de 1975. Este documento propõe uma análise crítica de um período caracterizado por uma acentuada instabilidade política e intensa participação popular.

O dossiê inclui um texto inédito do historiador Francisco Bairrão Ruivo e compila uma variedade de documentos históricos, artigos de imprensa e filmes que ajudam a contextualizar a época em questão, como destaca a comissão em comunicado.

Maria Inácia Rezola, comissária executiva da comissão, afirma que este dossiê é fundamental para uma compreensão mais profunda de um dos capítulos mais fervorosos e determinantes da Revolução dos Cravos. "Através da reexploração deste período, apoiada pela investigação histórica e por testemunhos visuais, ambicionamos iluminar os eventos e estimular uma reflexão crítica sobre a memória da democracia em Portugal", enfatiza a responsável.

O dossiê examina acontecimentos-chave de um verão que se revelou decisivo para o futuro da Revolução, incluindo a dissolução da coligação que sustentava o IV Governo Provisório e a diversificação de projetos políticos dentro do Movimento das Forças Armadas (MFA). Além disso, realça a intensificação de manifestações e manifestações públicas, frequentemente marcadas pela violência.

A comissão também sublinha que o dossiê oferece um balanço histórico que procura posicionar o "Verão Quente" no contexto da Revolução dos Cravos.

Os materiais incluídos variam desde fotografias a documentos relevantes, como a conferência de imprensa de três indivíduos encapuzados que representavam os Soldados Unidos Vencerão (SUV), sendo essa apresentação transmitida pela RTP. Também se encontra uma infografia que documenta as vítimas mortais resultantes de atos violentos de extrema-direita entre julho e setembro de 1975.

Francisco Bairrão Ruivo refere que, no seu sentido mais amplo, o "Verão Quente" abrange o período desde o 11 de Março de 1975 até ao 25 de Novembro do mesmo ano. “A escalada da confrontação política, acompanhada de perseguições e prisões, a crescente revolução, o fortalecimento das forças de esquerda e o receio de uma guerra civil sustentam a narrativa do 'Verão Quente' como um tempo de caos e violência”, explica.

Ele assinala que essa perspetiva histórica muitas vezes relaciona os problemas económicos do país com o socialismo e o 'gonçalvismo', enquanto que, inversamente, o "Verão Quente" pode ser visto como um período com avanços socioeconómicos significativos na vida das classes mais desfavorecidas.

A importância da Reforma Agrária e seus efeitos na diminuição do desemprego, na consolidação do trabalho fixo e na devolução de terras incultas às comunidades é especialmente mencionada.

O historiador indica que o encerramento deste período pode ser datado da tomada de posse do VI Governo, a 19 de setembro de 1975, ou do ataque à embaixada de Espanha, a 27 do mesmo mês. “Após o 'Verão Quente', seguir-se-ia um outono tumultuoso, marcado por eventos como o 'caso RASP/CICAP', confrontos que resultaram em mortos e feridos em Santarém, ações contra a Rádio Renascença e a tensão em torno da Assembleia Constituinte”, acrescenta.

O dossiê está disponível para consulta pública, promovendo assim o acesso à história e ao diálogo sobre os acontecimentos que moldaram a democracia em Portugal.

As celebrações dos 50 anos do 25 de Abril tiveram início em março de 2022 e irão prolongar-se até ao final de 2026, com cada ano a explorar um tema específico. O próximo, em 2025, focar-se-á nas primeiras eleições livres, um marco na construção da nossa democracia.

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