Gaza: Apelo da ONU a Favor do Estado de Direito e Humanidade

O secretário-geral adjunto das Nações Unidas, Maher Nasser, qualificou a atual situação na Faixa de Gaza como um "desprezo absoluto pelo Estado de direito". Em declarações à agência Lusa, Nasser sublinhou a urgência de um cessar-fogo para possibilitar a entrada de ajuda humanitária no enclave.

As condições de vida no território foram descritas por Nasser como "insustentáveis e inacreditáveis", com um alarmante aumento das mortes infantis devido à subnutrição. O palestiniano, que nasceu em território da Cisjordânia e cresceu como refugiado, recordou o seu tempo em Gaza desde 1987, quando a maioria da população era também composta por refugiados.

"Tive a sorte de conviver com algumas das pessoas mais generosas e bondosas, que, mesmo com escassos recursos, partilhavam o que tinham", recordou. Nasser revelou que a situação da região é uma preocupação constante para ele, especialmente após os violentos ataques do Hamas em 7 de outubro de 2023, que resultaram em cerca de 1.200 mortos israelitas e levaram a uma resposta militar devastadora por parte de Israel, que já causou a morte de mais de 59 mil pessoas em Gaza.

"É de partir o coração testemunhar diariamente o sofrimento das pessoas que conheço, incluindo as crianças", afirmou Nasser, que tem uma longa carreira na Agência da ONU para os Refugiados Palestinianos (UNRWA).

A UNRWA revelou que possui seis mil camiões, preparados para entregar alimentos, materiais de higiene e medicamentos, aguardando apenas autorização para atravessar a fronteira. "O desafio reside na obtenção de acesso e na capacidade de entregar essa ajuda", lamentou Nasser, referindo-se às restrições impostas pelo governo israelita que, devido a questões de segurança, limitou as operações da UNRWA, acusando a agência de estar infiltrada pelo Hamas.

Atualmente, a única distribuição de ajuda permitida em Gaza é feita pela Fundação Humanitária de Gaza, que é sob controlo dos EUA. No entanto, isso resultou na morte de mais de mil pessoas durante os ataques a postos de distribuição, o que tem levantado graves preocupações sobre a segurança das operações. "É inaceitável enviar as pessoas a buscar ajuda a locais onde já se reportou tanto sangue", frisou o responsável da ONU.

Nasser reiterou que esta situação viola os princípios do direito internacional humanitário, sendo imperativo assegurar o respeito às normas internacionais. Além disso, defendeu que a situação em Gaza tem implicações significativas nas relações internacionais, destacando a importância da região numa perspectiva global.

"Se permitirmos que o direito à segurança e à justiça seja desconsiderado, ficará mais difícil exigir responsabilidade noutros lugares", advertiu. O secretário-geral adjunto da ONU mencionou ainda o empenho do secretário-geral António Guterres em buscar soluções para a crise, enfatizando a necessidade de uma trégua que permita à ONU intervir na reconstrução das vidas em Gaza, incluindo a libertação dos reféns israelitas detidos.

No entanto, Nasser lembrou que a resolução deste conflito não pode ser limitada a medidas humanitárias; é essencial fomentar um verdadeiro impulso rumo a uma solução política duradoura. "Não podemos continuar a falar de uma solução de dois Estados enquanto vivemos numa realidade de um único Estado", concluiu.