Herpes como terapia inovadora no combate ao melanoma
Um estudo revela que o vírus do herpes, com modificação genética, pode oferecer novas esperanças no tratamento do melanoma avançado, com resultados promissores em ensaios clínicos.

A utilização de um vírus para tratar o cancro pode parecer surpreendente, mas um recente estudo destaca o potencial do herpes geneticamente modificado no combate ao melanoma, especialmente em estágios avançados. Publicada no Journal of Clinical Oncology, esta investigação revela progressos significativos nesta área.
Os resultados foram partilhados pela Keck Medicine, da University of Southern California, durante o congresso anual da American Society of Clinical Oncology, e indicam que o vírus herpes simplex tipo 1 (HSV-1), associado ao herpes labial, desempenha um papel crucial no tratamento desta forma agressiva de cancro da pele.
O estudo, que incluiu 140 pacientes com melanoma em estado avançado, todos sem resposta a tratamentos convencionais, testou uma nova abordagem. Os participantes receberam uma combinação de imunoterapia com o HSV-1 geneticamente alterado. Os resultados mostraram que cerca de um terço dos doentes apresentou uma redução dos tumores em pelo menos 30%, enquanto quase um em cada seis ficou livre de qualquer tumor.
Gino Kim, oncologista clínico da Keck Medicine, sublinha a relevância desses achados: "O melanoma é o quinto tipo de cancro mais frequente em adultos, e aproximadamente metade dos casos avançados não responde às terapias tradicionais." Ele acrescenta que "a taxa de sobrevivência para o melanoma avançado intratável é limitada, o que torna esta nova terapia promissora para doentes sem opções."
Esta nova abordagem faz parte de uma classe inovadora de medicamentos de imunoterapia, cujo objetivo é atacar e eliminar células tumorais, utilizando uma combinação designada RP1, que não provoca herpes labial.
A Food and Drug Administration dos EUA já concedeu prioridade na revisão desta terapia. Quando administrado diretamente no tumor, o RP1 é capaz de se replicar e destruir células cancerígenas, preservando as saudáveis, ao mesmo tempo que activa o sistema imunitário para eliminar outras células malignas no organismo.
O estudo também incorporou o nivolumabe, um medicamento que potenciou os efeitos do RP1. "Os resultados preveem um impacto abrangente, ao atingir não só o tumor injectado mas também metástases", comenta Kim, expressando otimismo em relação ao futuro deste tratamento. "Vejo-a como uma nova e significativa abordagem contra o cancro em pacientes específicos."
Atualmente, uma nova fase de ensaios clínicos foi iniciada, visando a confirmação dos resultados com 400 pacientes. Os investigadores estão a recrutar voluntários para acelerar o progresso do estudo, que será acompanhado ao longo de um período de dois anos.