Américo Aguiar alerta sobre a perda de confiança da população
O bispo de Setúbal, Américo Aguiar, sublinhou a importância da esperança na sociedade e a necessidade de consenso em temas como a saúde e imigração, durante as jornadas parlamentares do PSD/CDS-PP.

O bispo de Setúbal, Américo Aguiar, fez hoje um apelo à reflexão durante a sua intervenção nas jornadas parlamentares do PSD/CDS-PP, que estão a decorrer em Évora até terça-feira. Com o tema 'Portugal não deixa ninguém para trás', o cardeal destacou a urgente necessidade de que a população mantenha a esperança e a confiança nas instituições.
Na sua intervenção, Aguiar começou por abordar a situação da saúde, enfatizando que não se trata apenas de pessoas ou protagonistas, mas de um contexto mais amplo. Segundo ele, nenhum dos ministros que conheceu teve intenções negativas: "Cada um tentou fazer o que achou certo, mas o resultado é que o cidadão comum continua a sentir dificuldades", lamentou.
Aguiar sublinhou que se os problemas persistirem ao longo dos anos, a esperança da população pode desvanecer. "Quando a confiança e a esperança se esvaem, qualquer um se pode apoderar da situação", afirmou, sem apontar dedos a políticos específicos. Contudo, advertiu que há aqueles que podem contribuir para a instabilidade, referindo-se a um 'cocktail molotov' que poderá resultar de um clima de descrença.
O bispo apelou a um consenso abrangente, não só na saúde, mas em diversas áreas, para que os desafios da população sejam efetivamente abordados. Lamentou que, nos últimos anos, tenha havido uma deterioração na confiança dos cidadãos nos seus representantes. "Estamos a chegar ao ponto em que é visto como uma vantagem não se apresentar como político", observou. "O político deve ser um agente de transformação da sociedade, não algo que se considera tóxico".
Relativamente à imigração, Aguiar defendeu que o Estado deve honrar as promessas feitas a quem já reside no país há longos anos, separando isso de uma futura política de imigração. "Se eu posso acolher 20 pessoas em minha casa, devo fazê-lo com dignidade, tornando claro o número que consigo receber", explicou, apontando que a criação de falsas expectativas pode levar a um desrespeito pela dignidade de quem deseja vir para Portugal.
O cardeal não se pronunciou sobre a validade de quotas para a imigração, pois não se considera um especialista. Contudo, sublinhou que a nação tem o dever de receber bem os que decide acolher, e que é fundamental ter consciência das capacidades do país. "Caso contrário, corremos o risco de alimentar a exploração e situações indignas", concluiu.