Aumento de tarifas dos EUA ameaça a estabilidade financeira da UE
Um relatório do CERS alerta que as elevadas tarifas aduaneiras norte-americanas criam riscos para a estabilidade financeira na União Europeia, afetando crescimento e emprego.

O Comité Europeu do Risco Sistémico (CERS) emitiu hoje um alerta sobre os efeitos adversos que a recente política tarifária dos Estados Unidos pode ter sobre a estabilidade financeira da União Europeia (UE). No seu relatório anual referente à atividade bancária europeia, que abrange o período de 1 de abril de 2024 a 31 de março de 2025, o organismo supervisiona as potenciais consequências da imposição de tarifas elevadas por parte da Administração de Donald Trump.
O CERS destaca que a aplicação de "direitos aduaneiros muito elevados representa riscos adicionais para a estabilidade financeira na UE". Se estas tarifas se prolongarem, é esperado que esses riscos se concretizem, com efeitos negativos no crescimento económico, na inflação, nos resultados empresariais e nos custos de financiamento.
O relatório sublinha que um crescimento económico mais fraco, aliado a uma maior incerteza sobre a inflação, pode reduzir a procura de bens, resultando em lucros mais baixos e em um aumento da taxa de insolvência entre as empresas. Adicionalmente, é prevista uma subida do desemprego, o que geraria pressões adicionais sobre as famílias.
O CERS também observa que, caso a política tarifária americana permaneça em vigor, o cenário de restrições comerciais prolongadas e incerteza poderá provocar uma correção abrupta dos preços dos ativos, potencialmente exacerbada por setores financeiros não bancários. Essa combinação pode trazer consequências", que incluem custos de financiamento mais altos e deterioração da qualidade dos ativos no setor bancário.
Embora este relatório apresente uma visão para o futuro, reflete apenas as possíveis repercussões até 31 de maio, não incluindo a recente decisão de 12 de julho de impor tarifas de 30% sobre produtos da UE e do México a partir de 1 de agosto.
Desde as primeiras medidas imposta em 2 de abril, que incluíram uma tarifa mínima de 10% sobre todas as importações e taxas mais elevadas a 57 parceiros comerciais, o comité nota que as projeções de crescimento já foram revistas em queda para a maioria dos principais mercados, incluindo os Estados Unidos.
Ao mesmo tempo, as expetativas de inflação nos EUA aumentaram, pois se antecipava que o agravamento dos custos das importações teria repercussões nos consumidores. A maior magnitude das tarifas levou a uma descida acentuada nos preços de ativos mais arriscados, como ações e obrigações de elevada rentabilidade, à medida que os investidores procuraram ativos mais seguros.
Na segunda metade de abril e em maio, os riscos diminuíram levemente, pois a Administração dos EUA reduziu algumas tarifas, e, mesmo face a uma "baixa liquidez" em certos ativos, os mercados financeiros globais mostraram-se resilientes, sem impactos notáveis na descoberta de preços.
A presidente do BCE, Christine Lagarde, destacou, na introdução do relatório, que o sistema financeiro europeu demonstrou resistência, mas alertou para a necessidade de vigilância contínua, dado que "mudanças radicais e rápidas no panorama geopolítico continuam a representar desafios significativos".