Desafios e Sonhos: Raparigas Moçambicanas enfrentam a maternidade precoce
Diana, de 17 anos, tem grandes aspirações de se tornar enfermeira. Apesar das dificuldades e da maternidade inesperada, nunca desistiu dos seus sonhos, diariamente lutando para garantir um futuro melhor.

Diana Manhiça, uma jovem de 17 anos, reside no bairro da Mafalala, em Maputo, onde diariamente acorda às 05:00 para preparar e vender alimentos à porta de casa, antes de ir para a escola. O seu sonho é tornar-se enfermeira, mesmo enquanto cuida do seu filho de dois anos.
“Quando tive o meu filho foi uma bênção, mas as dificuldades surgiram logo a seguir,” partilha Diana com a Lusa, enquanto segura o bebé Kayon ao colo. A gravidez não foi planeada, refletindo uma realidade em que muitos adolescentes moçambicanos não têm acesso a métodos contraceptivos. “Foi uma grande lição. Nunca mais cometerei esse erro,” afirma.
Os dados da ONU revelam que Moçambique tem a quarta maior taxa de natalidade na adolescência a nível global. O relatório “Situação da População Mundial 2025”, apresentado recentemente em Maputo, revela que 158 em cada mil raparigas moçambicanas engravidam entre os 15 e os 19 anos de idade.
Diana enfrenta inúmeros desafios na escola, incluindo bullying e olhares críticos dos vizinhos. Apesar disso, seguiu em frente com o apoio incondicional dos pais, que vivem na mesma casa, onde habitam seis pessoas em condições limitadas.
O pai do seu filho, com quem não mantém uma relação, não fornece qualquer apoio financeiro. “Dizer ao meu pai que estava grávida foi um desafio. Demorei seis meses... Felizmente, reagiu bem,” diz.
O desejo de Diana de ser enfermeira motiva-a a persistir nos estudos, apesar de ter chumbado no 10.º ano devido à gravidez. “Quero ajudar as pessoas e ser uma boa enfermeira,” revela. Diariamente, ela prepara frituras e pães para vender, antes de deixar o filho no salão do pai e ir para a escola à tarde.
Ao falar sobre o futuro do seu filho, Diana manifesta a esperança de que ele não repita os erros que cometeu, prometendo-lhe que irão discutir métodos contraceptivos. “Quero ter outro filho, mas com mais tempo e preparação. Tudo deve ter o seu momento,” assegura.
O estudo do FNUAP destaca que apenas um terço das mulheres moçambicanas pode decidir sobre a maternidade, e muitas engravidam sem planejamento. Além disso, 48% das raparigas casam-se antes dos 18 anos.
No mesmo bairro, Hortênsia Zefanias, 21 anos, conta que a maternidade precoce também a afetou: decidiu não ter mais filhos até estar estabilizada. Com duas crianças pequenas, ela aspira voltar à escola e ser empreendedora, reconhecendo que as dificuldades a obrigam a aprender sobre planeamento familiar.
Cíntia, de 16 anos, também enfrentou a gravidez inesperada aos 14 anos. Ao contrário de muitas, ela agora se dedica totalmente a dar um futuro melhor à sua filha, focando na educação e trabalho.
Emília Rodrigues, ou 'Maimuna', de 35 anos, também vive diariamente as consequências de uma vida marcada por gravidezes não planeadas. Ela destaca a importância da educação e do planeamento familiar para as suas filhas, desejando que elas não repitam os mesmos erros.