Investigador aborda aumento da desinformação sem alarmismo
Apesar do crescimento de 160% na desinformação nas redes sociais, João Canavilhas afirma que não há motivos para alarme, destacando a importância da educação cívica.

João Canavilhas, coordenador do estudo 'Desinformação nas Legislativas 2025: atividade dos partidos nas redes sociais', analisou recentemente a questão da desinformação em Portugal, sinalizando um aumento de 160% em relação a eleições anteriores. No entanto, o investigador considera que "não há um nível de desinformação preocupante" em território nacional.
Em entrevista à agência Lusa, Canavilhas reconheceu um crescimento global da desinformação, refletindo uma tendência que também é visível em Portugal. Apesar disso, ele observa que a atenção dos partidos e das estruturas de monitorização estão a surtir efeito.
O académico também faz referência ao aumento da presença da extrema-direita, que está associado a um aumento da produção de desinformação. "No nosso estudo, mais de 80% dos casos identificados estão ligados ao Chega, que tem utilizado diversas formas de desinformação para mobilizar apoiantes", revelou.
Outra conclusão importante do estudo, que envolveu a Entidade Reguladora para a Comunicação (ERC) e a Universidade da Beira Interior, é a eficácia do formato vídeo para a disseminação de mensagens. Este facto preocupa Canavilhas, especialmente considerando que plataformas como o TikTok são populares entre os jovens, que tendem a confiar mais no conteúdo visual do que na informação textual.
"Os dados mostram que as gerações mais novas recorrem cada vez mais às redes sociais, enquanto os mais velhos ainda equilibram com a informação proveniente das mídias tradicionais", explicou o investigador, sublinhando a estratégia que alguns partidos políticos utilizam para explorar esta dinâmica.
Sobre o uso de Inteligência Artificial na criação de conteúdos, Canavilhas acredita que, até agora, "a produção de vídeos não requeria necessariamente o uso da IA", estando apenas associada a uma edição simples. Contudo, ele alerta para o potencial impacto negativo do uso de tecnologias como 'deepfakes', que podem dificultar a distinção entre conteúdos verdadeiros e falsos.
"A desinformação tende a circular mais rapidamente, e o apelo à verificação de factos é continuamente desafiado, já que a informação falsa alcança mais pessoas do que as correções", acrescentou.
Por fim, Canavilhas mencionou a preocupação com os grupos fechados nas redes sociais, como os do WhatsApp, onde "a desinformação é praticamente incontrolável", uma vez que circulam frequentemente informações falsas que geram impactos reais.