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Revolta em Cabo Delgado: Grupos Armados Despojam Terras Agrícolas

Cidadãos de Miangalewa denunciam saques a campos agrícolas por supostos terroristas, aumentando o receio de escassez alimentar. A província de Cabo Delgado enfrenta crescente violência desde 2017.

Moradores da localidade de Miangalewa, na província de Cabo Delgado, expressaram a sua indignação esta manhã ao denunciarem o roubo das suas colheitas por parte de alegados grupos armados que têm semeado o terror nesta região de Moçambique, num conflito que se intensificou desde 2017.

Conforme informações de fontes locais, os rebeldes têm direcionado os seus ataques à produção agrícola, focando-se na colheita de milho, feijões e vegetais que estão prontos para o consumo, nas imediações do regadio Nguri, cerca de 25 quilómetros da sede do distrito de Muidumbe. “Estão a levar as nossas culturas das machambas [campos] e isso vai provocar fome em breve”, revelou um residente de Miangalewa.

Os saques intensificaram-se desde setembro, numa altura em que as plantações da segunda época produtiva estavam prestes a ser colhidas, antes do início da época das chuvas, que se estende de outubro a abril. Um outro morador, angustiado, comentou: “Não sei o que será de nós durante a época das chuvas, já que temos abandonado as nossas terras por medo deles”. Ele pediu ajuda às autoridades militares para combater a situação.

A constante presença destes grupos armados tem forçado várias famílias a evacuar as áreas de cultivo, deslocando-se para comunidades mais seguras nas proximidades de Miangalewa e Primeiro de Maio.

Um relatório da organização ACLED, divulgado hoje pela Lusa, revela que Cabo Delgado viu um aumento alarmante na violência, contabilizando pelo menos 12 incidentes violentos entre 13 e 26 de outubro, resultando na morte de 18 cidadãos. Desde o início da insurgência armada em outubro de 2017, foram reportados 2.236 eventos violentos, onde 2.061 envolveram combatentes relacionados com o Estado Islâmico Moçambique (EIM).

Num total, a violência resultou em pelo menos 6.659 mortos ao longo dos últimos oito anos, incluindo as 18 vítimas fatídicas contabilizadas apenas nas duas últimas semanas de outubro. O relatório ainda aponta que Cabo Delgado, uma região rica em gás, "testemunhou um aumento nas atividades insurgentes", com os grupos a atacarem as forças de segurança, particularmente nos distritos de Montepuez e Muidumbe.

Adicionalmente, os insurgentes têm continuado a ameaçar a vida de civis nos distritos de Mocímboa da Praia, Muidumbe e Metuge. A ACLED observou ainda que o aumento das hostilidades se alinha com outras instabilidades, especialmente em áreas de extração mineral em Montepuez.

As comunidades piscatórias também continuam a ser alvo de ataques, tanto por parte dos insurgentes como pela resposta das autoridades. A dispersão das atividades dos grupos armados sugere uma operação em células pequenas, facilitando o alargamento das suas ações para além dos seus tradicionais bastiões.

Recentemente, a ACLED relatou um ataque em 21 de outubro, o qual resultou na morte do motorista de um veículo policial, que foi atingido por um lança-granadas durante uma emboscada, provocando pânico nas aldeias circunvizinhas.

O Presidente de Moçambique, Daniel Chapo, classificou em 6 de outubro estas motivações como “atos bárbaros” que atentam contra a “dignidade humana”.

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