Desinformação na Ibéria: Um Fenómeno Transnacional e Sistémico
Um novo relatório revela que a desinformação nas redes sociais em Portugal e Espanha é interligada e sistemática, afetando diversas temáticas como saúde, clima e género.
 
          
          
        Um relatório recentemente divulgado pelo Observatório Ibérico dos Meios Digitais (Iberifier) revela que a desinformação nas redes sociais em Portugal e Espanha é um fenómeno sistémico e transnacional, promovendo laços entre várias comunidades digitais internacionais.
O documento, intitulado "Desinformação nas redes sociais no ecossistema de media digital ibérico", analisou uma vasta gama de publicações enganosas relacionadas com a covid-19, alterações climáticas e questões de género. Os autores do estudo descobriram que esta propagação de desinformação ocorre através de múltiplos canais em ambos os países, que frequentemente partilham conteúdos idênticos.
Uma característica notável é que a maioria das desinformações circulam em grupos multilíngues, mostrando uma estreita interligação entre as comunidades portuguesa e espanhola. As mensagens tendem a ter um forte viés conspiratório e um tom antigovernamental, frequentemente associadas a narrativas negacionistas.
As instituições científicas e europeias, como a Organização Mundial da Saúde, a União Europeia e a NASA, estão frequentemente na linha de fogo destas campanhas de desinformação.
O estudo focou-se em três áreas principais: covid-19, mudanças climáticas e questões de género, embora os autores enfatizem a elevada sobreposição entre estes temas. "Embora cada mito tenha características próprias, a dinâmica geral da sua propagação permanece constante", afirmam os investigadores.
Na análise, os autores sublinham que a covid-19, apesar de não ser uma nova questão, continua a ser uma fonte prolificamente explorada de desinformação médica. Em contraste, as alterações climáticas emergem como uma questão crítica à medida que as temperaturas globais aumentam, exigindo uma vigilância eficaz para identificar rapidamente narrativas prejudiciais.
A desinformação relacionada com questões de género é igualmente alarmante, pois é utilizada para difundir mensagens de ódio, tornando essencial compreender como estas se propagam.
O estudo enfocou especialmente a plataforma Telegram, dado que esta permite a recolha generalizada de dados, facilitando a análise das narrativas de desinformação.
Os investigadores concluem que o ambiente de desinformação na Península Ibérica é complexo, caracterizando-se pela intersecção de discursos conspiratórios, políticos e de ódio, frequentemente ligados a ideologias de extrema-direita. Assim, enfatizam a necessidade de reforçar a literacia mediática e científica, fomentar o acesso a dados por parte de investigadores e coordenar políticas a nível da União Europeia para combater eficazmente a desinformação.
Este relatório, realizado com o apoio da União Europeia, visa fornecer uma visão clara sobre a dinâmica da desinformação nas redes sociais e o seu impacto nas comunidades ibéricas. O documento completo está disponível para consulta.