Israel condiciona ajuda humanitária a Gaza, aumentando crise alimentar
Médicos Sem Fronteiras alerta que Israel pode proibir ajuda humanitária em Gaza, enquanto a fome se agrava na região devastada pela guerra.

A organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) revelou que Israel está a ponderar a proibição da atuação das principais organizações internacionais de ajuda humanitária nos territórios palestinianos, num momento crítico onde a fome se intensifica na Faixa de Gaza.
Esta correspondência surge no seguimento de uma declaração conjunta subscrita por 102 organizações não-governamentais (ONG) de várias partes do mundo, incluindo a Plataforma Portuguesa das Organizações Não-Governamentais para o Desenvolvimento (ONGD), onde se manifesta um forte "alerta e repúdio" perante as ameaças israelitas.
Na declaração, as ONG enfatizam que, enquanto as autoridades israelitas afirmam não haver restrições à entrada de ajuda humanitária, "a maioria das organizações não conseguiu enviar qualquer carregamento de bens essenciais desde 2 de março".
MSF revela que, ao invés de permitir a entrega dos produtos acumulados, as autoridades rejeitaram mais de 60 pedidos de assistência, alegando que essas organizações "não têm autorização para fornecer ajuda". Este bloqueio resulta na retenção de bens avaliados em milhões de dólares, incluindo alimentos e medicamentos, que permanecem guardados em armazéns na Jordânia e no Egito, enquanto a população de Gaza enfrenta uma emergência alimentar.
Sean Carroll, presidente da American Near East Refugee Aid (ANERA), destacou que existem mais de sete milhões de dólares em bens essenciais impedidos de entrar em Gaza, como 744 paletes de arroz que poderiam fornecer seis milhões de refeições, parados em Ashdod, a poucos quilómetros da região.
A falta de assistência humanitária tem consequências devastadoras, afetando especialmente crianças, pessoas com deficiência e idosos que estão à mercê da subnutrição e de doenças evitáveis. Muitas das organizações agora consideradas "não autorizadas" têm uma vasta experiência de trabalho em Gaza e são reconhecidas pelas comunidades locais.
As 102 organizações solicitam aos Estados e doadores que exerçam pressão sobre Israel para que cesse a manipulação da ajuda humanitária, incluindo a eliminação de obstáculos burocráticos que dificultam o trabalho das ONG.
Adicionalmente, exigem a "abertura imediata e incondicional" de todas as passagens terrestres, permitindo a entrega crucial da assistência humanitária.
A situação em Gaza agravou-se drasticamente desde os ataques do Hamas a 7 de outubro, que resultaram na morte de cerca de 1.200 pessoas e na captura de cerca de 250 reféns. Desde o início da ofensiva militar de Israel, mais de 61 mil pessoas perderam a vida, com as infraestruturas de Gaza praticamente destruídas, e centenas de milhares de habitantes forçados a deixar seus lares.
A Organização das Nações Unidas (ONU) tem reiterado que há uma fome generalizada na região, onde Israel impôs restrições à entrada de ajuda humanitária nos últimos meses, reestabelecida recentemente, mas considerada insuficiente frente às necessidades dos mais de dois milhões de habitantes da área.
As autoridades locais da Faixa de Gaza, sob domínio do Hamas, reportam mais de 200 mortes, com uma proporção significativa de crianças, decorrentes da fome e subnutrição.