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"Os desafios das doenças cerebrais na saúde pública"

"As doenças do cérebro são uma preocupação crescente. São crónicas e transformadoras, afetando vidas e relações. Investir na saúde cerebral é vital para o futuro individual e coletivo."

há 6 horas
"Os desafios das doenças cerebrais na saúde pública"

À primeira vista, o cérebro pode parecer um órgão simples, um novelo cinzento pesando cerca de 1400 gramas, protegido por um robusto capacete ósseo. No entanto, ele desempenha funções vitais, armazenando e processando os nossos sentidos, emoções e conhecimentos, e controlando os nossos movimentos através de complexas interações elétricas e bioquímicas que a ciência continua a explorar.

É impressionante como um órgão de tais dimensões poderia ter um papel tão crucial, servindo como centro de comando e repositório de informação de toda a nossa vida. Assim, é compreensível que as doenças que o afetam, por mais localizadas que sejam, tenham repercussões profundas nas vidas dos indivíduos.

No dia 22 de julho, celebramos o Dia Mundial do Cérebro, uma oportunidade para aumentar a consciência sobre as doenças cerebrais, que representam um dos principais desafios de saúde pública a nível mundial. Estas condições são particularmente preocupantes por diversas razões.

Primeiramente, a natureza crónica destas doenças frequentemente levar à desfuncionalidade e raramente proporciona uma recuperação rápida. Além disso, muitas vezes impõem uma reconfiguração drástica das dinâmicas familiares e profissionais das pessoas afetadas. A estigmatização social que rodeia essas doenças, frequentemente associada a sentimentos de vergonha e incapacidade, é agravada pelos sintomas que não podem ser ocultados, como uma cicatriz.

O "capital cerebral" refere-se ao conjunto de conhecimentos, habilidades criativas e saúde cerebral que capacita os indivíduos a atingirem o seu potencial nas sociedades contemporâneas. Um cérebro saudável é uma fonte de força, instrumental na progressão do mundo. Por isso, é imperativo explorar todas as possibilidades para fortalecer esse capital, através de prevenções adequadas e tratamentos eficazes.

A investigação em neurociências tem mostrado avanços significativos. Nos últimos anos, melhorámos consideravelmente o tratamento do acidente vascular cerebral, reduzindo complicações que antes eram comuns. No que diz respeito às cefaleias, como a enxaqueca, novas terapias têm demonstrado eficácia e os ensaios clínicos na Doença de Alzheimer estão a trazer novidades promissoras. O progresso em pesquisa traz esperanças concretas para o futuro.

A prevenção é igualmente essencial. Sabe-se que agir sobre fatores como hipertensão, diabetes, défices auditivos e isolamento social pode diminuir significativamente o número de casos de demência.

Iniciativas comunitárias que promovem um equilíbrio entre autonomia e cuidado, como habitação colaborativa, são um passo positivo. Contudo, as famílias que lidam com doentes de demência ainda enfrentam custos avultados. No meu trabalho clínico, observo cada vez mais cuidadores na posição difícil de "sanduíche", que devem equilibrar o cuidado de filhos pequenos e de pais a desenvolver demência. Estas circunstâncias requerem uma rede de apoio sólida e recursos financeiros adequados.

Investir no capital cerebral oferece um retorno significativo, tanto a nível individual como social. Uma abordagem que priorize a saúde do cérebro, com um acompanhamento clínico acessível e especializado, deve ser um objetivo central para sociedades que aspiram a um futuro ético e sustentado.

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