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A Complexidade da Perturbação Obsessiva-Compulsiva e os Seus Efeitos

Especialista analisa os recentes acontecimentos em Vagos e a influência da Perturbação Obsessiva-Compulsiva em comportamentos agressivos. É necessário distinguir entre condição e ação violenta.

No passado dia 21 de outubro, Susana Gravato, vereadora da Câmara Municipal de Vagos, foi fatalmente atingida por disparos de arma de fogo, supostamente pelo seu filho de apenas 14 anos, que admitiu ter cometido o crime. De acordo com o Jornal de Notícias, investigações sugerem que o jovem pode estar a sofrer de Perturbação Obsessiva-Compulsiva (POC).

O neuropsicólogo Alberto Lopes, em entrevista ao Lifestyle ao Minuto, esclarece que a POC, por si só, raramente resulta em actos de violência. “É fundamental considerar que outros factores, como impulsividade, abuso de substâncias ou um ambiente familiar desfavorecido, podem agravar a situação”, afirma Lopes.

O especialista alerta ainda para os perigos da rotulação de indivíduos com POC, ressaltando que não se deve reduzir uma condição complexa a um simples estigma. “Temos a responsabilidade de evitar que o sofrimento de quem padece desta condição se transforme em um estereótipo negativo”, acrescenta.

Lopes define a POC como uma perturbação caracterizada por pensamentos intrusivos e comportamentos compulsivos que visam aliviar a ansiedade, sendo que esses pensamentos não refletem necessariamente desejos reais. Em termos de prevalência, estima-se que cerca de 2% a 4% da população em Portugal possa sofrer desta condição, muitas vezes sem ter um diagnóstico formal.

O neuropsicólogo também discute o impacto que a POC tem na vida diária, alertando que a ausência de reconhecimento e tratamento pode levar a consequências devastadoras. “Se não for devidamente identificada, a POC pode acentuar o sofrimento psicológico, provocando isolamento e prejuízo à qualidade de vida”, diz.

Contrariamente ao que se pode pensar, a POC não provoca amnésia em quem a sofre, mas sim uma sensação de controlo que pode se tornar ilusória. Ao serem interrogados sobre a condição, amigos e familiares devem demonstrar empatia e apoio, encorajando a busca por ajuda profissional.

Em última análise, este caso trágico de Vagos levanta questões cruciais sobre a compreensão e a abordagem da POC na sociedade, apelando a um discurso mais cauteloso e informado. “É arriscado dizer que a POC leva a comportamentos agressivos sem considerar o contexto mais amplo que envolve cada indivíduo”, conclui Lopes.

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