Cultura

Macau: da cidade do jogo ao património cultural reconhecido

A classificação do centro histórico de Macau pela UNESCO transformou a percepção da região, atraindo um turismo cultural que visa diversificar a economia, ainda dependente dos casinos.

há 6 horas
Macau: da cidade do jogo ao património cultural reconhecido

No coração de Macau, o templo de Na Tcha e as imponentes Ruínas de São Paulo coexistem, atraindo turistas que se deixam envolver pela singularidade da sua história. Alina Wang, uma turista de Xangai, partilha: "Gosto da calçada [portuguesa], é especial", enquanto o seu filho York Xiong adiciona que "os edifícios são bonitos". Contudo, nem todos têm conhecimento das narrativas que rodeiam este símbolo icónico da cidade, uma vez que o patriarca Li Zijian acreditava erradamente que a estrutura tinha sido destruída durante a II Guerra Mundial.

Há 20 anos, a UNESCO reconheceu o centro histórico de Macau, composto por 22 monumentos que fundem a arquitetura portuguesa e chinesa, como Património da Humanidade. Este acontecimento, segundo a Direção dos Serviços de Turismo, alterou significativamente o perfil do visitante, que deixou de ver Macau apenas como um destino de jogo.

"Isto mudou a imagem de Macau de uma 'cidade do jogo' para um destino cultural, diferenciando-o na região Ásia-Pacífico", acrescentou a instituição. Desde a distinção em 2005, o turismo tem crescido de forma acelerada, com chegadas de visitantes a aumentarem de 16,14 milhões para 34,93 milhões até 2024.

Um estudo recente revela que 53,3% dos turistas visitam Macau em busca de património cultural, superando aqueles que procuram compras (33,7%) ou gastronomia (18,5%). Segundo Lei Ip Fei, historiador e ex-membro do conselho do Património Cultural de Macau, "o jogo impulsionou a economia a curto prazo, mas a cultura deve garantir um crescimento sustentável a longo prazo". Com 80% das receitas públicas vindas dos casinos, o Governo da região espera arrecadar este ano cerca de 79,8 mil milhões de patacas (9,1 mil milhões de euros) através do imposto sobre o jogo.

Apesar dos avanços na valorização cultural, Ka Nok Lo, vice-presidente da Associação dos Embaixadores do Património de Macau, fez um alerta sobre a necessidade de equilibrar as demandas turísticas com as necessidades dos residentes. "Os museus devem servir a comunidade, como as bibliotecas e livrarias, e não apenas os turistas", destacou.

Além disso, Lo frisou que ainda não existe uma narrativa coesa que una os diversos locais reconhecidos pela UNESCO. Enquanto isso, o Governo de Macau continua a trabalhar na diversificação da economia, explorando novos setores, como turismo integrado, medicina tradicional chinesa, finanças, tecnologia, convenções e comércio.

Contudo, a atratividade dos casinos persiste. Como evidenciado pelas famílias de Xangai e Xi'an, após visitarem a zona histórica, o próximo passo na sua aventura seria explorar as modernas estâncias de jogo em Cotai, reafirmando Macau como um destino dual, onde o património cultural e o entretenimento se entrelaçam.

#MacauCultura #PatrimonioUNESCO #TurismoSustentavel