A violência em Cabo Delgado intensifica-se com a descoberta de corpos
Na província de Cabo Delgado, Moçambique, a descoberta de três corpos à margem de uma escalada de ataques extremistas provoca preocupação e realça o drama humanitário na região.

Pelo menos três cadáveres foram encontrados no posto administrativo de Chiúre Velho, na província de Cabo Delgado, Moçambique, que enfrenta uma série de ataques por grupos extremistas desde 24 de julho, conforme indicado por fontes oficiais.
De acordo com a Força Local, que dá apoio no combate a estes grupos armados desde 2017, os corpos, que apresentavam várias marcas de bala, foram descobertos na terça-feira na vegetação densa da localidade, numa área agrícola situada a cerca de 30 quilómetros da vila de Chiúre, no sul da província.
“Tratam-se de corpos de adultos, localizados e imediatamente reportados às autoridades do distrito, embora não se saiba a identidade dos indivíduos devido ao estado avançado de decomposição”, revelou a mesma fonte.
A descoberta ocorreu durante uma patrulha militar na região, numa resposta à recente escalada de violência em Cabo Delgado. Forças combinadas de militares moçambicanos e do Ruanda estão a operar na área. “Estamos a implementar operações em Chiúre Velho e Ocua, com o objetivo de conter a movimentação dos rebeldes”, acrescentou a Força Local, informando que algumas comunidades já estão a regressar às suas aldeias.
Desde o dia 20 de julho, mais de 57 mil pessoas foram forçadas a deixar as suas casas em Cabo Delgado, em consequência dos aumentos nos ataques extremistas, segundo dados da Organização Internacional para as Migrações (OIM).
No seu relatório mais recente, que abrange o período de 20 de julho a 3 de agosto, a OIM assinala que “a intensificação dos ataques e o crescente temor de violência” têm causado o deslocamento de 57.034 pessoas, correspondendo a 13.343 famílias, que incluem 490 grávidas, 1.077 idosos e 191 indivíduos com mobilidade reduzida, bem como 126 crianças que se encontram separadas dos seus pais e que atravessam distâncias que podem ultrapassar os 50 quilómetros, muitas vezes à noite, em direção à sede do distrito de Chiúre.
Este é um dos maiores picos de deslocamento associados a actos de violência na região no último ano. A OIM destaca que a necessidade mais premente entre os deslocados é de alimentação, seguida de abrigo e outros itens essenciais. Até agora, 22.939 deslocados foram alojados em Namisir e 27.558 em Micone, em escolas na vila de Chiúre.
Recentemente, elementos do grupo extremista Estado Islâmico reivindicaram novos ataques nos distritos de Chiúre e Muidumbe, ao que se reporta que cinco pessoas foram decapitadas. Através de canais de propaganda, o Estado Islâmico alegou que em Chiúre foram capturadas e mortas quatro pessoas numa aldeia, e uma outra morte foi relatada em Muidumbe.
A atividade dos grupos extremistas na região tem vindo a aumentar, com este tipo de violência a ser frequentemente documentado. O ministro da Defesa Nacional expressou, na quinta-feira, a sua preocupação com a atual onda de ataques, garantindo que as forças de defesa estão a intensificar as suas operações para neutralizar os rebeldes. “A segurança não está a funcionar como gostaríamos, visto que os terroristas têm conseguido penetrar em áreas mais remotas da província”, declarou Cristóvão Chume.
A província de Cabo Delgado, rica em recursos de gás natural, tem enfrentado uma insurgência violenta desde 2017, resultando na deslocação de mais de um milhão de pessoas.