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Reflexões sobre o Vale dos Caídos: O Passado que Persiste na Espanha Democrática

Ao celebrar 50 anos de democracia, o Vale dos Caídos permanece um símbolo controverso do franquismo, evidenciando a luta por memória e justiça.

há 9 horas
Reflexões sobre o Vale dos Caídos: O Passado que Persiste na Espanha Democrática

Este ano, Espanha comemora cinco décadas de democracia, mas o Vale dos Caídos, com a sua imponente basílica, ainda se apresenta como um retorno a 1975. Emilio Silva, presidente da Associação para a Recuperação da Memória Histórica (ARMH), observa que "entrar na basílica é como voltar ao passado, pois a narrativa permanece inalterada".

Durante uma visita recente, Silva partilhou com jornalistas internacionais a realidade sombria deste lugar, onde estão sepultados mais de 33.800 indivíduos, principalmente vítimas da Guerra Civil Espanhola (1936-1939). Desses, mais de 12 mil corpos continuam sem identificação, com muitos outros desaparecendo em valas comuns. Este estado faz de Espanha o segundo país do mundo com o maior número de desaparecidos, apenas atrás do Camboja.

A história do Vale dos Caídos, localizado a cerca de 50 quilómetros de Madrid, é marcada por polémica. Construído entre 1951 e 1959 com a mão de obra de prisioneiros políticos, o espaço é dominado por uma cruz de 150 metros e conserva a narrativa franquista e os símbolos associados à ditadura. Silva critica a permanência desta ideologia, destacando que os bancos da basílica ainda ostentam o escudo criado por Franco.

Até 2019, o corpo do ditador esteve sepultado no altar, antes de ser transferido para o cemitério de El Pardo. Esta mudança deu-se ao abrigo da primeira lei de memória histórica, mas o novo jazigo acabou por se tornar um "altar" onde se perpetua a admiração por Franco. Silva não hesita em chamar a atenção para o fato de que "num país que tem milhares de desaparecidos, este local é um insulto à sua memória".

Silva também destaca a existência de mais de 6.000 símbolos do franquismo, que persistem em espaços públicos e privados, contrariando a lei que deveria mandá-los remover. O Arco da Vitória, por exemplo, continua a ser um monumento que celebra a vitória franquista, sem que muitos madrilenos se tenham dado conta do seu significado histórico.

A recente lei de 2022, que visa transformar o Vale dos Caídos num espaço de memória histórica, ainda não trouxe mudanças concretas. Silva lamenta que não haja informação disponível para os visitantes, ao contrário do que acontece em campos de concentração na Europa, contrariando a necessidade de uma narrativa que explique a história do local e os elementos que o constituem.

Em vez de construir um novo centro de interpretação, a ARMH defende que a ênfase deve estar na educação histórica, criticando ainda a comparação do governo entre o plano para o Vale dos Caídos e monumentos que homenageiam vítimas do Holocausto. Silva ressalta que "o Vale dos Caídos foi concebido para humilhar as vítimas da guerra civil".

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